Opini O
*Rodrigo M.F
Num casa da zona oeste de São Paulo, entre uma e outra taça de vinho, jovens se entretêm numa roda de fumo. Quando o baseado chega, enfim, às mãos da jovem sentada à cabeceira da mesa, ela exclama: “Obrigada. Parei de fumar. E este é um ato político”. Ela adverte para a responsabilidade dos consumidores de drogas diante dos estragos causados pelo tráfico. Muitos dos que estão na mesa concordam com a moça. Outros se revoltam, reclamando: “Não vou renunciar ao meu prazer. Este é também um ato político”. A discussão segue por horas a fio sem muito consenso.
Discussões espinhosas como essa, a despeito das conclusões às quais podem conduzir, têm uma virtude: revelar num hábito aparentemente banal um problema social, situar atos cotidianos e irrefletidos em um contexto maior de relações. Se o significado ético e político do uso de drogas torna-se inevitavelmente óbvio, torna-se óbvia também a ignorância de grande parte dos cidadãos sobre a “questão das drogas”. Mesmo aqueles que se consideram usuários seguem muito pouco informados tanto sobre as propriedades das substâncias que ingerem quanto de sua situação legal, reproduzindo não raro preconceitos que julgam terem sido superados.
Qual, afinal, o conceito de droga com o qual operamos? O repúdio às drogas, aquelas que alteram a consciência, sempre existiu em diferentes tempos e lugares? De quando data a proibição, no Brasil e no mundo? Por que algumas substâncias, como o álcool e o tabaco, são permitidas, e outras, como a maconha e o LSD são proibidas? Que outras sociedades -por exemplo, indígenas e africanas- têm a dizer sobre o consumo de drogas?
Duas coletâneas de artigos lançadas no final de setembro, que eu gostaria de comentar, parecem lançar luz sobre essas questões. São elas “Álcool e drogas na história do Brasil”, organizada pelos historiadores Renato Pinto Venâncio e Henrique Carneiro, e “O uso ritual das plantas de poder”, organizada pelas antropólogas