O Tempo na Narrativa
BENEDITO NUNES
Todos nós temos uma noção de tempo, mesmo que não consigamos explicá-lo. Quando esse tempo se liga aos fatos narrados, há ainda outra questão: o tempo da narrativa não é um só.
Antes de iniciar as análises do tempo propriamente literário, Benedito Nunes começa por nos definir diferentes noções de tempo, tais como o psicológico (subjetivo), o físico (objetivo), o cronológico (linear), o histórico (periódico) e o lingüístico (enunciativo). Este último difere dos demais por tomar como base o momento enunciativo, o presente lingüístico, que é o “agora” da enunciação, e sempre vai depender do ponto de vista da narrativa.
Para Nunes, uma narrativa possui pelo menos três planos: “o da história, do ponto de vista do conteúdo, o do discurso, do ponto de vista da forma de expressão, e o da narração, do ponto de vista do ato de narrar”. (pág. 26) O tempo de uma narrativa não pode ser o real, ainda que haja a consecutividade do discurso.
Em obras literárias, o tempo não se dissocia do mundo imaginário. Esse tempo nos é apresentado através dos acontecimentos. Algo interessante a ser notado aí é justamente esse caráter incontínuo do tempo na narrativa. Este não pode, assim como o tempo real, “transitar no presente ao passado e do passado ao futuro”. O tempo da leitura de um texto não pode ser retomado, um motivo crucial para existirem as lacunas no texto, ainda que o leitor não as perceba.
Em um conto, por exemplo, o espaço para a narrativa é mais curto do que em um romance, o que quer dizer que o tempo da leitura será menor. Há necessidade de distinguir o tempo narrado do tempo do narrar (Günther Muller). Observemos a introdução do conto “O Barril de Amontilado”, de Edgar Allan Poe:
“Suportei o melhor que pude as mil e uma injúrias de Fortunato; mas quando começou a entrar pelo insulto, jurei vingança. Vós, que tão bem conheceis a natureza da minha índole, não ireis supor que me limitei a ameaçar. Ao fim e ao cabo, eu me