O SENTIDO DO PASSADOHOBSBAWN, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.Para Hobsbawn (1998, p.22), “todo ser humano tem consciência do passado (definido como o período imediatamente anterior aos eventos registrados na memória de um indivíduo) em virtude de viver com pessoas mais velhas”.Segundo o autor, ao tornar-se membro de uma sociedade, o ser humano situa-se em relação ao seu passado, mesmo que apenas para rejeitá-lo.O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana. (HOBSBAWN, 1998, p.22)O passado social formalizado torna-se mais rígido a partir do momento em que fixa o padrão para o presente. E, quando a mudança social acelera ou transforma a sociedade para além de um certo ponto, o passado deve cessar de ser o padrão do presente, e pode, no máximo, tornar-se modelo para o mesmo.A crença de que o presente deva reproduzir o passado normalmente implica um ritmo positivamente lento de mudança histórica, pois, caso contrário, não seria nem pareceria realista, exceto à custo de imenso esforço social. Enquanto a mudança demográfica, tecnológica ou outras, for suficientemente gradual para ser absorvida, por assim dizer, por incrementos, pode ser absorvida no passado social formalizado na forma de uma história mitologizada e talvez ritualizada, por uma modificação tácita do sistema de crenças, pela distensão da estrutura normativa, ou por outras maneiras.Não fosse assim, seria impossível ocorrer o significativo grau de mudança histórica cumulativa experimentado por toda sociedade documentada, sem destruir a força desse tipo de tradicionalismo normativo. Todavia, ele ainda dominava grande parte da sociedade rural do século XIX e mesmo do século XX, embora “o que sempre fizemos” deva ter sido claramente muito diferente, mesmo entre os camponeses búlgaros de 1850, do que havia sido em 1150. (HOBSBAWN, 1998, p.25)Acrescenta o referido autor que