O Pequeno Hans Discutido E Sentido Entre O Passado E Presente
A ideia agora é nos determos no primeiro tópico da última parte de seu livro, onde Freud propôs uma discussão do caso. Dividiu-a em três partes, e o seguimos à cata de novos significados. A bem da verdade, tratou de aprofundar suas ideias, às quais já vinha discutindo em cada entrelinha da apresentação. Mas ele não era homem para superfícies e, continuando, sedimentou vários aspectos e levantou novos. Apontou três objetivos para essa discussão: primeiro, rever as ideias expostas em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905); segundo, contribuir para a compreensão da fobia e, finalmente, “projetar alguma luz” sobre a vida mental e/ou educacional das crianças. A nosso ver, cumpriu os três. Mas, para nós, cumprir é resgatar os ecos de Hans no que se pensou, depois dele, sobre a clínica da criança, nosso objetivo principal do tema livre.
Após reconhecer que o caso confirmava as hipóteses dos “Três ensaios...”, Freud defendeu-se de duas críticas que a obra poderia suscitar: a primeira se referia ao fato de Hans ser considerado uma criança anormal, e não um parâmetro. Freud considerava que isso poderia impor limites, sem anular os méritos. Nada mais disse a respeito, mas podemos dizer agora que o próprio tempo se encarregou de desfazer o limite tênue entre o normal e o patológico. Mesmo as classificações mais rigorosas, em psiquiatria, sugerem que a diferença se limita à intensidade e ao comprometimento social de um sintoma, que pode estar presente na saúde e na doença, no normal e no anormal (American Psychiatric Association, 1994). Em observações clínicas contemporâneas, o dito “anormal” pode até mesmo fazer parte da normalidade (Brazelton, 1990). Há medos considerados normais em crianças de cinco anos. Hans, hoje, talvez nem recebesse o diagnóstico de fóbico (Meltzer, 1989; Laplanche, 1998).
A segunda objeção se refere à possibilidade de Hans ter sido sugestionado por seu pai que, por sua vez, teria sido