O problema do Mal no livro de Jó
Jesus Tavernard Júnior
“Deus ou não quer tirar os males e não pode, ou não pode e não quer, ou não quer nem pode ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que não pode ser Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que igualmente é contrário a Deus. Se não quer nem pode, é invejoso e impotente, portanto, não é Deus. Se quer e pode, o que só convém a Deus, de que provém a existência dos males e por que não os elimina?” (Fr. 374,
Usener, dos epicuristas contra os estóicos).
Introdução
Conta-se que um jovem ameaçava suicidar-se de um parapeito de uma ponte. Um policial recebeu a incumbência de dissuadi-lo do gesto tresloucado. Vagarosamente subiu até onde ele estava e arrastou-se em sua direção. Ainda fora do alcance dos seus braços, iniciou o diálogo: “Jovem, a vida é bela, vale a pena viver”. O rapaz continuava resoluto a matar-se. O policial tentou outra tática: “Eu lhe darei dez razões pelas quais você não deve suicidar-se e depois permitirei que você me diga por que deseja morrer”. Minutos depois os dois se jogaram da ponte1.
De modo tragicômico, essa história desvela um pouco de nossa angústia existencial e a busca sedenta que temos pela felicidade.
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Em uma de suas reflexões, declarou Blaise Pascal: “Todos os homens buscam felicidade, até aqueles que vão enforcar-se”2.
Marx, num dos seus escritos, também declarou — “no palco da história humana ora se vê comédia, ora se vê tragédia”3. Este último é o que transparece no livro de Jó, pois o que o livro retrata — entre tantas coisas — não é a felicidade4, mas o infortúnio; não é a alegria, mas a tragicidade do cotidiano. Vê-se, efusivamente, a presença do absurdo e do trágico que circunda endógena e exogenamente a natureza humana.
Jó é nosso contemporâneo. Sua história se confunde com a nossa. À semelhança dele, vemos muitos dos nossos dilemas estampados não apenas em suas reflexões, mas, sobretudo, em seu sofrimento. Afinal,