O Paradigma Ignorado
Maurice Herbert Jones *
“Os antigos deuses envelheceram ou morreram
e outros ainda não nasceram.”(Emile Durkheim)
O processo civilizatório a que estamos submetidos transcorre como se nosso planeta fosse um gigantesco e dinâmico palco com cenários em permanente mutação e atores em rodízio constante.
Este imenso espetáculo é dirigido por "matrizes ideológicas" ou paradigmas que, num dado momento e cultura, tornam-se hegemônicos e, portanto, eleitos para administrar o processo até que, esgotada sua virilidade, senilizados, são substituídos por novos paradigmas.
Convém reconhecer, todavia, que o envelhecimento ou até mesmo a morte dos velhos deuses não é facilmente reconhecida. Sendo muito penosa a orfandade, é preferível um deus mumificado a deus nenhum, prolongando, assim, a crise de referências ao mesmo tempo em que os candidatos à sucessão são submetidos aos testes necessários.
A crise existencial do nosso tempo tem como uma das principais causas o esgotamento dos modelos conceptuais ainda vigentes, crescentemente incapazes de oferecer segurança e identidade.
O psicanalista Hélio Pelegrini afirmou em um artigo que a angústia metafísica que nos aflige clama por uma filosofia pública sobre o significado e objetivo da vida, capaz de orientar toda a atividade humana, isto é, uma visão de homem e de mundo que possa ser racionalmente universalizada.
Os relatos bíblicos, síntese conceptual daqueles tempos e cultura, nos falam, essencialmente, de um contrato estabelecido entre o criador e as criaturas a partir do momento em que estas conquistam a racionalidade, isto é, a liberdade de desobedecer, que inaugura a história humana. Este contrato é reformável na medida em que precisa ajustar-se aos novos níveis de consciência e liberdade conquistados pelo homem. A iniciativa, porém, como a história nos ensina, cabe ao homem.
Quando os valores tradicionais começam a perder significado e eficácia, um novo contrato, um