O nascer da narrativa
“Começa a ficar claro porque a narrativa é um veículo tão natural para a psicologia popular. Ela lida (quase que a partir da primeira fala da criança) com o material da ação e da intencionalidade humana. Ela intermedeia entre o mundo canônico da cultura e o mundo mais idiossincrático dos desejos, crenças e esperanças. Ela torna o excepcional compreensível e mantém afastado o que é estranho, salvo quando o estranho é necessário ao tropo. Ela reitera as normas da sociedade sem ser didática. Ela pode até mesmo ensinar, conservar a memória, ou alterar o passado.”
J. Bruner em “Atos de significação”(1990) I - O nascer da narrativa
As primeiras histórias da humanidade surgem num momento em que o homem precisava buscar um significado para a grandiosidade da natureza, para aquela força descomunal que seguia uma seqüência lógica de ritmo diário, independente de sua intervenção. Era preciso manifestar seu espanto, sua insegurança, buscar respostas, procurar uma forma de dominar a natureza, de enfrentá-la por se sentir tão ínfimo, tão inessencial para o mundo.
Assim surge o mito, como uma resposta a sua necessidade de explicar e controlar energias naturais que aparentemente fugiam ao controle, uma tentativa de sentir-se seguro, de possuir o objeto do medo, a narrativa como fonte de poder. Essas primeiras narrativas: • são tentativas de registro de ações humanas no planeta, imitando ritmos e movimentos que sucedem seqüencialmente com começo, meio e fim como as ações da natureza: estações do ano, dia, noite, portanto, lineares, utilizando-se do tempo cronológico. • são a base de todas as histórias humanas, servindo de fundamento para a narrativa moderna que violará as leis dessas histórias básicas para falar do