o mulato 3 capitulo

8369 palavras 34 páginas
Daí a pouco, entre as vistas interrogadoras dos curiosos, atravessou a Praça do Comércio um rapaz bem parecido, que ia acompanhado pelo cônego Diogo e por Manuel.
A novidade foi logo comentada. Os portugueses vinham, com as suas grandes barrigas, às portas dos armazéns de secos e molhados; os barraqueiros espiavam por cima dos óculos de tartaruga; os pretos cangueiros paravam para “mirar o cara-nova”. O Perua-gorda, em mangas de camisa, como quase todos os outros, acudiu logo à rua:
— Quem será esse gajo, ó coisa? perguntou ele ruidosamente a um súcio que passava na ocasião.
— Algum parente ou recomendado do Manuel Pescada. Veio do Sul.
— Ó aquele! sabes quem é o lanceiro que vai com o Pescada?
— Não sei, homem, mas é um rapagão!
Manuel apresentou o sobrinho a vários grupos. Houve sorrisos de delicadezas e grandes apertos de mão.
— É o filho de um mano do Pescada... diziam depois. Conhecemos-lhe muito a vida! Chama-se Raimundo. Estava nos estudos.
— Vem estabelecer-se aqui? indagou o José Buxo.
— Não, creio que vem montar uma companhia...
Outros afiançavam que Raimundo era sócio capitalista da casa de Manuel. Discutiam-lhe a roupa, o modo de andar, a cor e os cabelos. O Luisinho Língua de Prata afirmava que ele “tinha casta”.
Entretanto os três subiam a Rua da Estrela.
Chegados a casa, onde já havia pronto um quarto para o Sr. Dr. Raimundo José da Silva, o cônego e Manuel desfizeram-se em delicadezas com o rapaz.
— Benedito! vê cerveja! Ou prefere conhaque, doutor?... Olha moleque, prepara guaraná! Doutor, venha antes para este lado que está mais fresco... não faça cerimônias! Vá entrando! vá entrando para a varanda! O senhor está em sua casa!...
Raimundo queixava-se do calor.
— Está horrível! dizia ele, a limpar o rosto com o lenço. Nunca suei tanto!
— O melhor então é recolher-se um pouco e ficar à vontade. Pode mudar de roupa, arejar-se. A bagagem não tarda aí. Olhe, doutor, entre, entre e veja se fica bem aqui!
Os três penetraram no quarto

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