O homem cordial
O homem cordial é a síntese de todo esse processo. A herança ibérica, específica dentro da Europa, consegue manter-se estruturada enquanto visão de mundo, passando ao largo das grandes transformações que abalaram a sociedade européia, como a Reforma protestante e as revoluções científicas, e apontaram para o caminho de uma maior racionalização das relações sociais. Tal caminho é francamente distinto daquele trilhado pela cultura da personalidade. Esta resistia a qualquer tipo de visão de mundo que, ao fundamentar-se num princípio abstrato e ordenador, exigia disciplina para sua consecução. Será esta cultura, de limitada capacidade de abstração, objetivação e planejamento, que engendrará o processo de colonização de uma forma quase anárquica. Ele será estruturado em grandes propriedades monocultoras e escravistas, fechadas em si mesmas, com maior relação com o exterior da colônia, a Metrópole principalmente do que com seus vizinhos. Daí a força do princípio mais básico de autoridade, a autoridade patriarcal, e sua exigência indiscutível de obediência e submissão. A quase inexistência de uma mão-de-obra livre e de um grupo social intermediário entre senhores e escravos dificultava o surgimento de uma visão de mundo alternativa e mais afeita ao processo de "desencantamento" pelo qual passou o mundo europeu. Desta forma, a vida doméstica e familiar oferecia: o parâmetro para qualquer tipo de contato. Isto significou o predomínio de relações humanas mais simples e diretas, que manifestavam horror a qualquer, forma de distância social e procuravam sempre uma maior aproximação - uma maior intimidade - com a pessoa ou objeto, de maneira a torná-los mais familiares, mais concretos e mais acessíveis: A força da cordialidade foi tão grande entre nós que penetrou em terrenos classicamente constituídos sobre uma relação impessoal. Um dos exemplos utilizados por Sérgio é o do "mundo dos negócios", lugar por excelência do cálculo e do número,