o futuro da democracia
PREMISSA Reuno neste volume alguns escritos dos últimos anos sobre as chamadas "transformações" da democracia. Uso o termo "transformação" em sentido axiologicamente neutro, sem associar a ele nem um significado negativo nem um significado positivo. Prefiro falar de transformação, e não de crise, porque "crise" nos faz pensar num colapso iminente. A democracia não goza de boa saúde, como de resto jamais gozou no passado, mas não está à beira do túmulo.
A permanência das oligarquias, ou das elites, no poder esteja em contraste com os ideais democráticos é algo fora de discussão. Isto não impede que haja sempre uma diferença substancial entre o sistema político no qual existem diversas elites concorrendo entre si na arena eleitoral e um sistema no qual existe apenas um único grupo de poder que se renova por cooptação. No que se refere à representação política, deve-se dizer que ela é, nada mais nada menos, inclusive para aqueles que a rejeitam, uma forma de democracia alternativa, que tem seu natural terreno de expansão numa sociedade capitalista em que os sujeitos da ação política tornaram-se cada vez mais os grupos organizados, sendo portanto muito diferente daquela prevista pela doutrina democrática, que não está disposta a reconhecer qualquer ente intermediário entre os indivíduos singulares e a nação no seu todo. Todo este discurso apenas vale se nos atemos àquela que chamei de definição mínima de democracia, segundo o qual por regime democrático entende-se primariamente um conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados.
Nenhuma concepção individualista da sociedade, seja a do individualismo ontológico seja do individualismo metodológico, prescinde do fato de que o homem é um ser social e