O enigma de kaspar hauser
Primeiramente, analisemos a dualidade da essência humana que nos é apresentada por Peter Berger e Luckman em ‘Organismo e atividade’. A nível biológico, há o substrato fixo a todos: a definição de uma só espécie – Homo Sapiens, e a vida de um indivíduo enquanto espécie mantêm-se inalterada através do tempo, portanto, o homem da antiguidade e o homem atual não se distinguem nesses termos.
No entanto, esta concepção muda ao ter em vista a maneira como vivem, o trabalho que fazem ou os valores que defendem, este é um conjunto de ações e conceitos que o ser humano desenvolve durante a sua formação em sociedade, são valores socioculturais que variam de acordo com tempo e lugar.
A natureza humana deve, então, ser entendida como conjunto das faces: animal e social, lembrando também que o desenvolvimento biológico se dá já em interação com o meio ambiente, ou seja, essa natureza se forma completamente com influências externas, geralmente numa ação exercida por um adulto sobre uma criança. É por isso que ao privar Kaspar Hauser do convívio com a sociedade, a sua educação tornou-se tão difícil.
No filme, por exemplo, há a cena em que, vendo Florian tocar piano, Kaspar pergunta: “Por que é que não se consegue tocar piano como se respira?”. A resposta para esta pergunta pode ser definida através do texto ‘Organismo e atividade’ quando este explica que a ordem social não faz parte da natureza das coisas, portanto para que o dom de tocar piano fosse tão natural quanto é respirar, o protagonista deveria ter sido educado desde criança, e assim, se socializado.
Destarte, é necessário para o ser humano exteriorizar-se em atividade social para que o mesmo torne-se capaz de desenvolver-se e