O enigma de kaspar hauser
No domingo de pentecostes do ano de 1828 um jovem foi deixado em uma praça da cidade de Nuremberg. Ele segurava um chapéu em uma das mãos e uma carta anônima na outra. Trazia consigo um livro de orações, um terço com uma cruz de metal e um papel dobrado em quatro com algumas folhas de ouro. Quando lhe deram um lápis e colocaram uma folha de papel em sua frente, ele escreveu o nome pelo qual seria conhecido desde então, Kaspar Hauser. Criado dentro de um calabouço a pão e água, sem contato com outros seres humanos, Kaspar Hauser não aprendeu a falar e nada sabia do comportamento humano. Até que um dia um homem entrou em sua cela e lhe ensinou a escrever o nome pelo qual ficou conhecido. Também lhe ensinou a falar uma frase “Devo me tornar tão bom cavaleiro quanto meu pai foi”. Depois disso o arrastou até a cidade e o abandonou. A carta dizia que Kaspar Hauser era um órfão, criado secretamente em cativeiro sem receber educação. Também dizia que ele era um jovem inteligente e que aprenderia o que lhe fosse ensinado. Depois de ser mantido preso em uma torre por mais algum tempo, Kaspar Hauser passou a conviver com as pessoas. Dócil e dedicado, aos poucos ele foi ensinado a falar e a se comportar em companhia de outras pessoas. Em dois anos Kaspar Hauser aprendeu a falar e a escrever. Também aprendeu a ler partituras e a tocar piano. Apesar do aprendizado, ele tinha dificuldades em aceitar certas convenções que para os outros pareciam lógicas. Ao mesmo tempo ele estabelecia associações aparentemente disparatadas, baseado em percepções imediatas. Como quando afirma que “a maçã é esperta” porque ela rolou sobre o pé do religioso. Inserido tardiamente na sociedade e exposto ao aprendizado da linguagem já na fase adulta, ele não consegue captar a realidade como as pessoas que o cercam. A forma como Kaspar Hauser se relaciona com o mundo indica que a percepção depende da prática social. Quando os