Currículo: Uma Constituição Histórica
Investigar os desafios, os enfrentamentos e as possibilidades para a construção de um currículo com perspectivas emancipatórias no cotidiano escolar, supõe construir, teoricamente, um referencial que nos ajude a olhar, dialeticamente, para esse contexto escolar, considerando toda problemática emergente neste contexto que é, também, reflexo de um contexto social mais amplo marcado por questões sociais características das periferias dos grandes centros urbanos.
Nas últimas décadas, o currículo tem sido alvo de muitos debates em espaços acadêmicos, sobretudo pelo interesse e, mesmo, a necessidade emergente de uma definição do campo do currículo diante de um contexto cultural cada vez mais diversificado e marcado por problemas sociais que afetam, diretamente, o trabalho pedagógico dos professores em sala de aula.
Por um lado, como afirma Sacristán (2000), o currículo não pode ser compreendido longe de suas condições reais de construção. Ou seja, é preciso entendê-lo em suas dimensões organizativas (política, econômica, social e cultural), estruturais, materiais, teóricas e práticas. Por outro lado, sua constituição histórica deve ser considerada para nos ajudar “a ver o conhecimento corporificado no currículo não como algo fixo, mas como um artefato social e histórico, sujeito a mudanças e flutuações.” (Silva, 1996, p. 77).
Reconhecendo essa complexidade, a constituição histórica do currículo justifica-se pela necessidade de compreender como esse campo nasce atrelado ao ideal de consolidação de um projeto social hegemônico, bem como de identificar as possibilidades, os enfrentamentos e os desafios que o contexto social, sobretudo a cultura de uma comunidade local, trazem à sua construção em sala de aula.
A constituição histórica do campo do currículo1, desenvolvida a seguir, tem a intenção de situar a compreensão sobre o currículo que, longe de ser uma descrição marcada por uma seqüência de fatos, ocorridos em uma ordem