A ruptura entre Moral e Política em Maquiavel
Introdução
A fim melhor compreendermos a ruptura existente entre Moral e Política no pensamento de Nicolau Maquiavel, faz-se necessário recorrer, até certo ponto, à realidade política de seu tempo e buscar aí aqueles elementos que corroborem com a ideia desta relação ou, se for o caso, que apontem para a forma como se dá este rompimento entre uma e outra.
O Renascimento, onde se insere o autor do livro, retoma valores antropocêntricos do clássico. Resgata o apreço filosófico da virtude, do apreço à ética, dos padrões de virtude e de comportamento do indivíduo. Já, por sua vez, propõe um grande dinamismo em relação à Idade Média (estática em relação ao estamento social e político). Sem falar nas fortes interferências da Igreja, que mais tarde Maquiavel verá como um forte entrave que atrapalhou a unificação italiana.
Maquiavel situa-se num período histórico onde os Estados Nacionais, do modo como são concebidos hoje, ainda não se encontravam plenamente estabilizados como uma forma de governo com sua soberania. A própria Itália, por sua vez, nada mais era do que um conjunto de mais ou menos vinte pequenos “estados”, com estruturas de governo muito diversificadas e que variavam com o tempo. Cada pequeno “estado” possuía autonomia em relação aos demais e, por vezes, os jogos de poderes levavam a mudanças no cenário político, tornando este muito instável (AMES, 2013). Por outro lado, havia também monarquias européias que já caminhavam para a unificação, ou até mesmo, em alguns locais, já eram centralizadas.
Tendo servido como chanceler na República de Florença, o autor de O Príncipe conhecia muito bem a realidade política do período e, sendo formado de modo considerável quanto à erudição, sabia valer-se de elementos da História para confirmar sua própria visão da administração pública e suas mazelas1. E foi exatamente este conhecimento histórico que, aliado à sua experiência de proximidade com o serviço político, o levaou a