A Revolução mexicana nos livros didáticos
A história da América Latina é um tema que, a despeito de sua importância e complexidade, vem sendo tratado com bastante descaso nos livros didáticos brasileiros. Seja qual for a divisão dos temas neles feita, o enfoque maior encontra-se sempre na história europeia e brasileira. Vale notar que inclusive a história dos EUA comumente ganha mais destaque que a dos vizinhos latinos do Brasil. Para demonstrar essa situação, propomos um estudo comparativo do modo como a Revolução Mexicana (um assunto especialmente relevante na história contemporânea da América Latina) é tratada em dois livros didáticos diferentes. Cabe aqui, inicialmente, fazer um breve comentário acerca dos livros didáticos de uma maneira geral. Antes de tudo, é preciso lembrar que o livro didático é um material que será vendido, e portanto obedece a uma lógica de mercado. Embora haja inúmeras diferenças nas abordagens dos temas, é possível notar, quando adotamos um ponto de vista mais amplo, a existência de um padrão a ser seguido. Ou seja, é praticamente impossível encontrar um material de História de Ensino Médio que dê maior ênfase ao estudo de processos revolucionários da América Latina no século XX do que à Primeira Guerra Mundial, por exemplo. No entanto, ambos acontecimentos são importantes, e trouxeram inúmeras consequências para a história mundial. O que justifica, então, o tratamento secundário dado àquele tema? Uma possível resposta seria a persistência das raízes eurocêntricas na formulação dos materiais. Abordaremos essa questão mais adiante. Sobre o tema escolhido para análise, cabem algumas observações. A Revolução Mexicana foi um dos acontecimentos mais notáveis do século XX, com um caráter deveras original. Foi um movimento agrário que inicialmente tinha como bandeira a luta contra o imperialismo ianque e as mazelas trazidas pelo capitalismo. No entanto, após a revolução, o capitalismo não foi extirpado da sociedade mexicana (embora