A Retomada das Narrativas da Tradição
INTRODUÇÃO
Ouvir, ler e contar histórias parece ser uma predileção humana universal. As histórias de tradição oral que ouvimos quando crianças constituem, em grande parte, a nossa educação geral. Circulando, quase sempre, de memória em memória, mas também de livro em livro, aprendemos através delas, muitas vezes antes de qualquer outro registro, as primeiras noções de afetividade, ética, justiça, solidariedade, partilha, amizade e tantos outros valores fundamentais a existência humana. Ao lado dos conteúdos escolares de natureza científica, grande parte das populações do planeta que não têm acesso a cultura letrada se educaram com base nos valores transmitidos através dessas emblemáticas histórias milenares que chegaram até nós através do registro oral ou escrito.
O Brasil possui uma riquíssima composição étnica e cultural que se estende das grandes cidades aos pequenos povoados no campo. Pode-se facilmente imaginar a infinidade de “conhecedores”, mestres, contadores de histórias, saberes e expressões populares e tradicionais que não estão sob a proteção de instrumentos legais, nem amparados por políticas públicas de valorização, reconhecimento e de melhoria das condições de vida. No entanto, esses sujeitos existem, estão nas cidades, nos bairros, nas comunidades... Ao seu modo, mantêm em sua memória saberes e fazeres ancestrais, passados de geração em geração, ensinados de pais para filhos, de avós para netos, de velhos para jovens. Antes dos instrumentos legais e das políticas públicas eles já existiam e, para além delas, mantém, como bem definiu Hampâté Bâ: “a memória viva” (1982, p. 181).
Educação, imaginário e aprendizagem através de narrativas da tradição.
Com base nessas experiências podemos discutir conhecimentos hoje considerados importantes no âmbito da educação. Um desses aspectos diz respeito à relação entre imaginário e aprendizagem, uma vez que práticas educativas que se utilizam de contos, narrativas e