A questão da mulher na perspectiva socialista
Heleieth Saffioti
(In memorian)
Resumo:
Neste artigo, escrito em 1967, a autora faz uma abordagem teórica da posição feminina no modo de produção capitalista e analisa a condição da mulher na perspectiva socialista, desde a sua vertente utópica, passando pelo socialismo científico e, por fim, examina a particularidade da tentativa da emancipação feminina sob o socialismo soviético.
Palavras-chave: Sociedade de classes. Socialismo. Emancipação feminina.
Todo socialismo, quer na sua forma utópica, quer na sua expressão científica, tentou mostrar à mulher os caminhos de sua libertação. Já Saint-Simon empreendera embora timidamente, a defesa da mulher. A libertação da mulher lhe parecia um dos aspectos da evolução normal da sociedade, não se podendo conceber o estado social do futuro sem a correlata emancipação feminina. Esta consequência da evolução histórica está, por assim dizer, nos sinais apresentados pela própria realidade que Saint-Simon observa1. Diferentemente do socialismo posterior, Saint-Simon não se insurge contra o casamento como uma das vias regulares de escravidão da mulher. Ao contrário, é no casamento que ele pretende estabelecer a igualdade dos sexos. Embora fossem estreitos os limites dentro dos quais o precursor do socialismo compreendia a emancipação feminina, chegou a admitir a igualdade dos sexos no grupo familial,
* Este artigo, originalmente intitulado “A perspectiva socialista”, é parte do capítulo I, “Mulher e
Capitalismo”, do livro A mulher na Sociedade de classes: mito e realidade, primeira edição de
1969, editora Quatro Artes, São Paulo. Transcrição de Suellen de Abreu, pesquisadora do Núcleo de Estudos Heleieth Saffioti, Unifesp/Baixada Santistas. Por falta de espaço, escolhemos manter somente as notas realmente explicativas e suprimimos aquelas que serviam apenas para comprovar a exposição da autora; nestes casos, permaneceram as referências aos