Caso concreto
CRÍTICA
DOSSIÊ
Feminismo, gênero e revolução
LELITA OLIVEIRA BENOIT *
De mãos dadas com o homem de sua classe, a mulher proletária luta contra a sociedade capitalista. Clara Zetkin1
A partir dos anos 80, os chamados estudos de gênero revolucionaram todo o campo conceitual em que se situava a questão do feminismo. O próprio conceito de feminino ou de feminilidade passou por uma radical revisão, particularmente, no sentido de superar e erradicar os referenciais biológico-sexuais que envolviam a temática feminista. Procurou-se, desde então, circunscrever as expressões culturais, sociais, psicológicas do feminino e reconstruir o conceito de feminino no campo das suas significações simbólicas; nesse sentido, passou-se a investigar, nos diversos domínios da cultura, da sociedade e da história, as chamadas relações de gênero entre mulheres e homens2.
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Doutora em Filosofia Política pela USP e pesquisadora da Fapesp.
1 Zetkin, C. “Relatório para o congresso de Gotha”, 1896. In Ausgewählte Reden und Schriften. 3 vols. Berlim (R. D. A.): Dietz Verlag, 1957-60, T. 1, p. 103-5. 2 Deve-se a constituição teórica do conceito de “gênero” à socióloga Ann Oakley, em trabalhos que remontam à década de 70 (cf. Sex, gender and society, 1972; The sociology of housework, 1974, Housewife, 1976), sendo, mais recentemente, rediscutido pela historiadora Joan Scott em “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Tradução de G. Lopes Loro. Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, 16 (2):5:22, jul./dez. 1990, p. 5-22; Idem. Gender and Politics of History. New York: Columbia University Press, 1994.
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A partir destas séries de pesquisas acadêmicas, ao menos à primeira vista, parece ter havido um avanço teórico significativo no domínio geral antes ocupado pelo chamado feminismo. Sobretudo, considera-se importante a superação de um suposto reducionismo biológico que sobredeterminava as diversas