A preservação da face e a polidez

INTRODUÇÃO

A palavra “conversar” deriva do verbo latino conversare, que significa “encontrar-se habitualmente num mesmo local, freqüentar, conviver” (HOUAISS, 2009, p.543) e traduz-se, hoje, por “trocar palavras, idéias (com alguém) sobre qualquer assunto; falar” (Ibid., p.543). Desse modo, pode-se afirmar que a conversação, essencialmente, sugere o convívio, a interação e, portanto, a adaptação de regras para que essa interação se torne possível.
Para realizar uma descrição satisfatória de qualquer interação comunicativa, é inevitável que nos inclinemos a noções de polidez, uma vez que elas intervêm significativamente no processo de formação de enunciados, sendo um dos grandes ditadores de regras de convivências e, assim, de interação conversacional.
Neste estudo, desenvolvem-se as noções de preservação da face e de polidez no diálogo entre Jô Soares, famoso apresentador de televisão, e a atriz Déborah Secco.
A conversa se dá, embora calcada em recursos que causem um efeito de sentido de espontaneidade – uma vez que é provida de turnos que se alternam com certa naturalidade – de acordo com estratégias de ataque à face por parte do apresentador e a defesa da atriz durante quase todo o diálogo.
Lançando-se a partir de uma entrevista retirada de um talk show, este trabalho demonstra como se pode usar-se da polidez – ou de sua falta – propositalmente, o que anuncia que, mais do que produzir efeitos na construção de enunciados cotidianos, a polidez e o seu contrário revelam-se, também, em exibições públicas, especialmente como táticas de discurso.
Assim, correlacionando princípios de polidez e de preservação da face, este trabalho destina-se a incluí-los no contexto da análise da conversação e nas influências das estratégias discursivas. Para isso, partimos das concepções de face propostas por Ervin Goffman e estendidas por Brown e Levinson para, depois, relacionarmos ao estudo de Kebrat-Orecchioni, associando polidez às suas manifestações lingüísticas e