A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO
Precarização Estrutural
Ricardo Antunes1
Neste texto vamos indicar algumas notas que, articuladas, oferecem uma leitura para alguns dos dilemas do trabalho neste século XXI.
I Uma nota inicial sobre os sentidos do trabalho: atividade vital ou fazer compulsório Na longa história da atividade humana, em sua incessante luta pela sobrevivência, pela conquista da dignidade, humanidade e felicidade social, o mundo do trabalho tem sido vital. Sendo uma realização essencialmente humana, foi no trabalho que os indivíduos, homens e mulheres, distinguiram-se das formas de vida dos animais. É célebre a
Professor Titular em Sociologia do Trabalho na Universidade de Campinas (UNICAMP). Foi
"Visiting Research Fellow" junto à School of European Studies da Universidade de SUSSEX
(1997/8). Autor de Los Sentidos del Trabajo, (Herramienta, Buenos Aires); Adios al Trabajo?
(Herramienta), entre outros livros. É editor participante e membro do Comite Editorial das revistas Margem Esquerda (Brasil), Proteo (Itália), Latin American Perspectives (EUA), Herramienta
(Argentina) e Trajectórias (México), dentre outras publicações.
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47 http://www.revista-theomai.unq.edu.ar/numero19/ArtAntunes.pdf distinção, feita por Marx, entre o “pior arquiteto e a melhor abelha”: o primeiro concebe previamente o trabalho que vai realizar, enquanto a abelha labora instintivamente. (Marx, 1971) Esse fazer humano tornou a história do ser social uma realização monumental, rica e cheia de caminhos e descaminhos, alternativas e desafios, avanços e recuos. E o trabalho converteu-se em um momento de mediação sócio-metabólica entre o humanidade e natureza, ponto de partida para a constituição do ser social.
Mas, por outro lado, se a vida humana se resumisse exclusivamente ao trabalho, seria a efetivação de um esforço penoso, aprisionando o ser social em uma única de suas múltiplas dimensões. Se a vida humana necessita do trabalho humano e