A patologização da normalidade
The pathologization of normality
Paulo Roberto Ceccarelli 2
Palavras-chave Patologização, psicopatia, normalidade, sofrimento psíquico. Resumo Partindo do termo psico-pato-logia, que traduz um discurso sobre as paixões da alma, sobre o padecer psíquico, o autor discute como o discurso sobre o patos na atualidade tem produzido uma patologização da normalidade. Inicialmente, é feita uma pequena digressão histórica para mostrar que cada momento sócio-histórico teve a sua maneira própria para lidar com as expressões do patos: no passado, a religião ditou as normas; na modernidade, foi a ciência; e na chamada pós-modernidade, o discurso científico tem sido questionado. Para o autor, as buscas de referências são maneiras de tentar lidar com o desamparo (Hilflosigkeit) constitutivo do indivíduo. Entretanto, no início da vida, o bebê humano não tem como lidar com as demandas pulsionais filogeneticamente herdadas. Uma das astúcias do Eu em constituição para lidar com o desamparo psíquico é lançar mão do imaginário social para dar representações às pulsões. Porém, as formas discursivas que criamos e que nos dão a ilusão de sermos confortados e acolhidos, a sensação de pertencermos a um grupo, expressam as inúmeras variantes da dependência psíquica. Muitas vezes, sustenta o autor, o discurso é transformado em instrumento ideológico que, juntamente como as inúmeras expressões do “politicamente correto”, traduzem uma busca de normatização e de padronização de comportamentos gerando uma patologização da normalidade. Na saúde psíquica, os manuais de diagnóstico, fomentados pela indústria farmacêutica, transformam as singularidades em anormalidades. Qual é a posição dos psicanalistas nesta nova ordem? Ao ser convidado para fazer uma conferência no XVIII Congresso do Círculo Brasileiro de Psicanálise, pensei que seria uma boa ocasião para discutir com os colegas algumas questões que venho me colocando já há algum tempo a respeito do que