A pantomima
"TODA revolução é produto de um grupo altamente organizado, consciente e profissional. Nunca é 'comunitário'."
Os manifestantes simplesmente não sabem o que estão fazendo lá: berram palavras de ordem contra males genéricos e abstratos e contra culpados genéricos e abstratos e por isto inexistentes.
Ontem eu estava com alguns amigos discutindo precisamente este ponto: O que está acontecendo é uma monumental aglomeração de pessoas absolutamente sem foco ou objetivo definido. Gritar contra "a corrupção" ou "contra o aumento de preços" é algo totalmente vago. Parece que os manifestantes se dividem em frações, cada uma com seu protesto particular. Algo como "se está insatisfeito - seja lá com o que for - junte-se a nós. Milhares de pessoas vão para as ruas por contágio, fenômeno banal na psicologia das massas, mas estas mesmas massas contentam-se em berrar contra "qualquer coisa", o que equivale a gritar contra nada.
- tinha uma parcela, comandada por um magrinho desgrenhado, que estava ali porque queria andar de ônibus de graça, e achava que o governo - com o nosso dinheiro, claro - deveria fazer este favorzinho pra eles. O magricela desgrenhado estava se achando importantíssimo e requisitava para si e para seus cumpanhêros não só a autoria mas a propriedade total do protesto, garantindo que estava todo mundo ali pelo mesmo motivo que ele;
- tinha outra parcela cheia de cartazes dizendo o exato contrário, e afirmando que o motivo não era este em absoluto;
- tinha uma ala até grandinha de pessoas que estavam ali familiarmente, como em um convescote - porque, como disse um rapaz com o filhinho nos ombros, "o país já estava cansado desta situação toda";
- tinha outra ala razoável que queria "dinheiro para a educação e para hospitais", o que me parece uma singular imbecilidade, já que, se esse dinheiro aparecesse, seria gasto numa "educação" de vigésima categoria, comandada por incompetentes, imorais e militantes comunistas, e por um