A noção de crise e o conceito da educação
A coletânea de ensaios na qual Arendt publicou “A Crise na Educação” tem sido considerada como a mais importante síntese de suas reflexões filosóficas e políticas. É uma obra que parece fechar um longo ciclo de investigações e reflexões voltado para a compreensão dos fenômenos políticos que marcaram o século anterior e que resultaram no que a autora classifica como a crise do mundo moderno.
Arendt ressalta ser a crise “a oportunidade [...] de explorar e investigar a essência da questão já que ela nos obriga a voltar às questões mesmas e exige respostas novas ou velhas, posto que perdemos as respostas em que nos apoiávamos de ordinário, sem querer perceber originariamente se elas constituíam respostas a questões”. Assim se o termo “crise” nos remete a ideias de um tempo de incertezas e perigos, também sugere a noção de um “tempo decisivo”; o momento que exige discernimento e intervenção. Não se trata, pois, necessariamente do prenúncio de um desastre ou de um processo agudo de degeneração.
Para Arendt uma das manifestações mais claras da crise é a perda do senso comum, entendido como a ausência de significações partilhadas por uma comunidade. É, pois, nesses momentos em que se esvaem as respostas comuns e correntes, imperiosa reflexão em busca da compreensão da essência do que está em questão. A essência da educação é a natalidade, o fato de que seres nascem para o mundo.
Arendt ainda diz que o nascer de cada ser humano apresenta sempre uma dupla dimensão. A primeira delas, de natureza biológica ou física, é o fato de que há um novo ser na vida. O nascimento é a maneira pela qual a vida se renova e perpetua suas formas. A atividade por meio da qual elas se mantém, e pela qual supre suas necessidades, é o labor, ou seja, todo esforço que um ser vivo faz para a manutenção de sua vida individual e da perpetuação da espécie. Já a natalidade indica que cada ser humano, além de um novo ser na vida é um ser novo no mundo.