A NOÇÃO DE PESSOA A principal tese deixada por Mauss nesse ensaio é de que a noção de pessoa, inclusive a noção do Eu não é uma categoria natural ou puramente psicológica, individual, mas é antes de tudo uma construção sócio-histórica-cultural. Até então concebiam a ideia de ‘pessoa’ e de ‘eu’ como uma noção natural ou inerente “bem definida no fundo da sua própria consciência, perfeitamente equipada no fundo da moral que dela se deduz. Trata-se de substituir essa visão ingênua de sua história e de seu atual valor por uma visão mais precisa.” (MAUSS, 2003, p. 369). Em A noção de pessoa, a de “eu” Marcel Mauss vai brilhantemente demonstrar, mesmo que de forma resumida, a “história social das categorias do espírito humano” (MAUSS, 2003, p. 370) ele vai aprimorar o discurso sobre o ‘eu’ e sobre o senso de consciência e pessoa que havia na época, dando à essa discussão o caráter social e de construção coletiva. Esse ensaio vai tratar de maneira bem pontual essa noção de ‘pessoa’ e a de ‘eu’ como fruto de uma construção social. Ele diz: “É um assunto de história social. De que maneira, ao longo dos séculos, através de numerosas sociedades, se elaborou lentamente, não o senso do “eu”, mas a noção, o conceito que os homens das diversas épocas criaram a seu respeito? O que quero mostrar é a série das formas que esse conceito assumiu na vida dos homens, das sociedades, com base em seus direitos, suas religiões, seus costumes, suas estruturas sociais e suas mentalidades.” (MAUSS, 2003, p. 371). Mauss vai, como ele mesmo disse, fazer uma análise histórica e social da construção da noção de ‘pessoa’ e da de ‘eu’. É importante notar que essa noção era até então uma categoria puramente psicológica, fechada e naturalizada pelos pensadores da época, o que se reflete ainda hoje. Mauss começa então essa análise desde os Pueblos, os índios Pueblos de Zuñi, estudados na época por Frank Hamilton Cushing e por Mathilda Cox Stevenson[1], passando por outros