A mazela do trabalho escravo contemporâneo
É difícil conceber a ideia de que ainda hoje, milhares de pessoas podem estar nesse momento passando por situações de escravidão. Entretanto, o problema é mais comum do que se imagina.
Dados assustadores apontam que desde 1995, cerca de 40 mil trabalhadores foram resgatados, isso só na zona rural. Estes dados nos fazem repensar até que ponto estamos vivendo uma “revolução” ou “evolução” histórica, já que açoitar pessoas, constrangê-las e privá-las de seu mínimo estado de liberdade já não é permitido há mais de trezentos anos.
Em nossos dias, o escravo moderno é um homem simples, com pouco ou nenhum estudo, que normalmente vive numa região castigada pelo clima e com pouquíssimas condições de manejar esse problema, ele recebe uma promessa de vida melhor. É nessa parte que entra em cena aquele que é popularmente conhecido como “gato”. Ele é o aliciador, chega bem vestido, num carro bom, impressionando aquela gente que raramente vê conforto. Fala sobre viagem de avião, hospedagem e alimentação por conta do patrão, alojamento e trabalho e chega a mencionar até mesmo visitas periódicas à família que vai ficar. Remuneração? Isso para ele não é problema nenhum, principalmente porque o dinheiro vem “limpo”: sem as deduções do registro em carteira e sem gasto com mais nada.
O que acontece depois do “sim” esperançoso respondido pelo trabalhador é muito rápido e assustador: ele descobre que vai ter que pagar (com o salário que ainda nem ganhou) pela passagem de ônibus/ avião, pelas ferramentas de trabalho e pelas diárias no alojamento. O homem do campo, honrado e de valores arraigados nos pactos feitos por simples apertos de mão, recusa-se a fugir, pois quer honrar seu compromisso. Parte do trabalho do aliciador é também, reforçar as fronteiras da fazenda com homens armados e por aí a gente já sabe o que acontece com quem tentar fugir. Os alojamentos são muitas vezes tendas em lona barata, muito pouco resistentes à chuva e