A maquina de Guerra discursiva
Evando Nascimento especial para a Folha
Acaba de sair na França "Le Toucher", de Jacques Derrida. O pensador judeu argelino de expressão francesa retoma a questão da literatura, a qual comparece desde as primeiras publicações nos anos 60. Destacaria, entre os livros recentes, além do citado, "Tourner les Mots" (também deste ano), "Donner la Mort" (1999) e "Voiles" (1998).
A literatura se dispõe nos textos de Derrida de três maneiras. Primeiro, por tematização direta, como acontece em "Voiles", no ensaio sobre o poeta judeu francês Edmond Jabès (de "A Escritura e a Diferença", 1967) e em "Demeure" (sobre Maurice Blanchot, 1996). Segundo, por meio de referências laterais, em "Donner la Mort" e "Espectros de Marx". E, finalmente, por meio de traços estilísticos da própria escrita derridiana, como fragmentação, atitude suspensiva do já sabido, multiplicidade de vozes, ficcionalização do saber, jogos de sentido, redisposição citacional, referências autobiográficas -em "Tourner les Mots" e "Le Toucher".
O último aspecto se torna dos mais relevantes, pois existe a tendência entre alguns comentadores de considerar duas fases em Derrida. Uma primeira, a dos livros iniciais, seria mais ensaística e presa a esquemas argumentativos clássicos da filosofia. Uma segunda, a partir da "virada" de 1974, com o livro "Glas", seria impregnada de dispositivos literários.
É inegável o papel desarticulador de "Glas" -título que ressoa o "dobre de finados" pelo saber absoluto, pretendido por Hegel. No entanto, supor que isso implique a ruptura em relação a um estilo anterior, ainda tradicional, é ignorar as estratégias discursivas de Derrida, que sempre buscou inseminar seus textos com a literatura, a fim de propor o que ficou conhecido como "desconstrução" da metafísica ocidental. Ele prefere, todavia, utilizar o plural "desconstruções", evitando com isso dar o cunho de um movimento que supostamente teria criado. Apenas em território