A literatura de cordel no século XXI
Éverton Diego S. R. Santos
a poesia está morta, mas juro que não fui eu.
José Paulo Paes
A Literatura de Cordel é uma tradição brasileira, com sua produção originalmente concentrada na região nordeste. De suas controversas origens, é de comum acordo entre os pesquisadores e cordelistas que suas raízes, ao menos no que diz respeito à forma editorial, são europeias, mais especificamente portuguesas, trazidas para o que hoje se conhece por Brasil nos navios dos colonizadores.
Em Portugal, assim como em vários países da Europa, grandes obras literárias e outras produções de gosto popular eram impressas em um formato mais barato do que o dos livros convencionais, os chamados folhetos de cordel. Esses folhetos eram compostos de pequenas páginas de papel barato, impressos de forma artesanal, na maioria dos casos por meio da gravura, e em geral comercializados dependurados sobre cordas ou cordéis. Alguns desses folhetos tiveram grande popularidade no Brasil do novecentos: Na zona rural, eram apreciados em engenhos, pequenas propriedades e em fazendas de gado, não só pelos trabalhadores mas também pelos proprietários das terras que patrocinavam a cantoria e liam – ou escutavam ler – as histórias. Distinções clássicas entre campo e cidade, cultura popular e cultura de elite parecem diluir-se perante os folhetos. No início do século, as diferenças entre campo e cidade não eram tão marcadas no Nordeste e, embora poetas e leitores pertencessem fundamentalmente às camadas pobres da população, membros da elite econômica também tinham nos folhetos e nas cantorias uma de suas principais fontes de lazer1.
Na região nordeste do Brasil, as cantorias de boi e as grandes pelejas – desafios entre cantadores que consistiam na provocação mútua através da rima improvisada –
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Mestrando em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí, membro do grupo de pesquisa
Ensino,