Como se tornar arqueologo
FUNARI, P.P.A. Como se tornar arqueólogo no Brasil. Revista USP, 44, 74-85, 2000; e
Tornar-se arqueólogo no Brasil, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Porto, Portugal,
40, 3-4, 2000,117-131.
COMO SE TORNAR ARQUEÓLOGO NO BRASIL
Pedro Paulo A. Funari1
INTRODUÇÃO
Para que se possa tratar da formação do arqueólogo, é necessário, antes, definir a identidade do arqueólogo. Em um contexto mais amplo, pode afirmar-se que o estudo da Arqueologia varia muito, em diferentes tradições universitárias. Nos Estados Unidos, a maioria dos arqueólogos é constituída de antropólogos, já que a Antropologia, normalmente, ali incorpora áreas como a Lingüística e a Arqueologia. Isto significa uma formação básica em Antropologia, voltada para o estudo do outro, os antropólogos estudando os índios vivos e os arqueólogos os mortos. Nos próprios Estados Unidos, contudo, há também arqueólogos com outras formações, como é o caso dos arqueólogos clássicos, que estudam as civilizações grega e romana, cujo estudo liga-se às letras clássicas, à História e à História da Arte, em medidas variadas, segundo a tradição de cada instituição. Há, ainda, os arqueólogos oriundos da orientalística (egiptólogos, assiriólogos), dos estudos bíblicos (a chamada “Arqueologia Bíblica”) ou das mais variadas disciplinas, como a Biologia ou a Geologia (cf. Taylor 1948: 11). A outra grande vertente produtora de arqueólogos, a escola européia, é ainda mais multifacetada. Em termos gerais, os arqueólogos europeus, pré-historiadores, classicistas ou medievalistas formam-se na tradição histórico-filológica de origem alemã. Em alguns centros, a Arqueologia é parte da História da Arte, em outras relaciona-se à História ou às línguas, raramente fazem parte da Antropologia. Os britânicos foram os que levaram mais adiante a independência epistemológica da disciplina, criando diversos cursos de graduação em Arqueologia, exceção tanto mais notável quanto, tanto na Europa como nos Estados