A liberdade
A liberdade
Quando alguém se livra de uma situação constrangedora e desabafa, "Sinto-me livre como um pássaro", sem dúvida está apenas se referindo àquilo que tal expressão simboliza: parece que a imensidão do céu aí está para ser livremente "conquistada", sem obstáculos de nenhuma espécie.
Bem sabemos que se trata de uma metáfora. O pássaro não é um ser livre, mas se encontra determinado pelo instinto de sobrevivência típico de sua espécie. Não vai "para onde quer", mas para onde precisa ir, a fim de continuar existindo. Seu próprio voo está sujeito às leis da física.
O filósofo alemão Kant brinca com essa ideia, imaginando uma pomba ágil, indignada contra a resistência do ar que a impediria de voar mais depressa. Na verdade, argumenta, é justamente essa resistência que lhe serve de suporte, pois seria impossível voar no vácuo.
O homem é determinado?
Se o voo livre do pássaro é uma ilusão, da mesma forma podemos dizer que incorremos em engano semelhante ao considerarmos o homem capaz de liberdade absoluta.
Comecemos refletindo sobre as conquistas do método científico. Vimos, no Capítulo 7, que a construção do conhecimento científico se faz a partir do princípio do determinismo, segundo o qual tudo que existe no mundo está sujeito à rígida relação entre causa e efeito. E a ciência só se toma possível porque o conhecimento da relação necessária entre causa e efeito — isto é, o conhecimento dos determinismos naturais — permite a descoberta das leis da natureza, a partir das quais são feitas previsões e desenvolvidas as técnicas.
Transpondo tais considerações do campo da ciência da natureza para o nível humano, não há como negar que também o homem se acha preso a determinismos: tem um corpo sujeito às leis da física e da química, é um ser vivo que pode ser compreendido pela biologia. Por isso, já no século XVIII, os