A história militar e a história contemporânea
Marcos Guimarães Sanches*
Conheci tardiamente a história militar. Não represento exceção mas a quase totalidade de gerações anteriores e posteriores que não foram apresentadas e/ou se ocuparam desta temática específica. Somos todos “filhos”, com maior ou menor semelhança, dos Annales ou da análise marxista. Nos dois casos, a história militar focada quase que exclusivamente no fenômeno da guerra era relegada a segundo plano, inserida no tempo curto, acontecimental da história política ou pertencente a um nível (super-estrutura) subordinado da realidade.
Poucos foram os historiadores profissionais que se ocuparam da questão ao longo do século XX, rotulada pejorativamente como “história-batalha”, e seu estudo ficou relegado a alguns militares profissionais, no caso do Brasil, herdeiros da Missão Francesa que valorizara o estudo da história militar como fundamento da elaboração da doutrina.
A retomada da história política em grande parte inspirada nas contribuições de Max
Weber e Michel Focault redimensionou sua problemática da questão do Estado para os lugares onde pode ser estudado o poder, o que associado a revisão da própria história militar como as empreendidas por John Keagan1 e André Courvisier2, para ficarmos apenas em duas tradições historiográficas, recolocou o nosso objeto no conjunto das preocupações da produção do conhecimento histórico.
REVISTA BRASILEIRA
DE
HISTÓRIA MILITAR
As perspectivas positivas do presente nos impõem enorme desafio: discutir a própria configuração do campo de investigação e construir ferramentas teórico-metodológicas capazes de explorá-lo. Em síntese recente, José D’Assunção Barros3 ao estabelecer os interesses e objetos da história política situa a guerra no grupo daqueles que estudam as “relações entre as unidades políticas”. A definição de um campo ou de um domínio para qualquer investigação histórica é problema complexo. A sua