A Grande Orquestra da natureza
A grande orquestra da natureza
Descobrindo as origens da música no mundo selvagem
Tradução:
Ivan Weisz Kuck
Nota: Palavras destacadas em negrito indicam áudio disponível para audi ção no endereço bit.ly/orquestranatureza
. O som é meu mestre
Certa noite, minha colega Ruth Happel e eu estávamos embrenhados na selva amazônica gravando até tarde, sozinhos e a vários quilômetros do acampamento, sem nenhuma luz senão a de nossas lanternas. Com a intenção de registrar a ambiência noturna em diversos pontos, percorríamos a trilha atentos à tapeçaria sonora à nossa volta. No caminho, percebemos também o inconfundível cheiro com que uma onça próxima marcava o território. Nunca chegamos a ver ou ouvir o animal, mas sabíamos que estava perto, talvez a poucos metros, sempre parando para deixar suas marcas olfativas.
O odor almiscarado do felino era uma presença constante. Nossos sentidos estavam aguçados, mas nenhum de nós se sentia assustado ou percebia qualquer perigo imediato. Sentados em silêncio, a mais ou menos cinquenta metros um do outro, gravamos a textura acústica noturna da floresta tropical – a delicada combinação de gotas de chuva caindo sobre as folhas e o som de insetos, aves, anuros e mamíferos que se apresentavam num coro unificado, tal como fazem a cada dia e a cada noite desde o princípio.
Passada uma hora, guardamos nossos equipamentos e penetramos ainda mais na floresta, à procura de pontos de gravação com combinações mais variadas. Então, por volta da meia-noite, decidimos nos separar a fim de captar uma variedade ainda maior de sons noturnos que esperávamos encontrar naquele ambiente tão rico. Ruth seguiu em uma direção e eu em outra.
Após caminhar cerca de quinze minutos, sentei-me à margem da trilha e comecei a gravar os vigorosos corais tropicais de anuros, insetos e
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répteis. Só então escutei o rosnado grave do felino nos fones de ouvido.
Eu