A globalização provoca miséria
Comecemos, como exemplo, por uma afirmação retirada de um documento do Fórum Social Mundial, esse imenso congraçamento de ativistas antiglobalização, a maior parte dos quais simples militantes, mas animados por algumas figuras de proa que costumam ser chamadas, pela imprensa, de “intelectuais”. Segundo um dos textos-base do movimento, “os povos do Terceiro Mundo, assim como os setores pobres e excluídos dos países industrializados, sofrem os efeitos devastadores da globalização econômica e da ditadura de instituições internacionais como o FMI, o Banco Mundial, a OMC e os governos que servem aos seus interesses”, isto é, aos da “globalização devastadora”.
De fato, a maior parte dos argumentos utilizados pelos opositores da globalização se resumem a repetir – sem suporte nos números – a velha cantilena do aumento do desemprego, das desigualdades dentro dos países e entre eles, da predominância dos interesses mercantis contra os objetivos sociais, da diminuição do papel do Estado como fonte de correção das desigualdades introduzidas pelos mercados, da erosão das culturas locais, da crescente renúncia de soberania nacional em face do crescimento das regras multilaterais relativas a comércio, finanças, meio ambiente e outras áreas regulatórias. Tem-se, pois, que a partir da existência, da permanência ou do agravamento de problemas sociais e econômicos – nem todos vinculados diretamente à globalização – se extrai a conclusão simplista de que esse processo tem “efeitos devastadores”.
Compreende-se a contundência verbal e o caráter peremptório da argumentação, ainda que ambos carentes de um real embasamento em dados de fato comprobatórios dos pretensos “efeitos devastadores” da globalização (sempre apodada de “capitalista”): afinal de contas, os promotores ou responsáveis por esse tipo de movimento “social” parecem ser, em sua maior parte, aqueles mesmos órfãos (ou viúvas) do socialismo ancienne manière, que tiveram de