A Expressão Obrigatória dos Sentimentos
O autor observa o ritual típico de um funeral, onde, já no início do texto ele diz que não se limita somente ao choro e sim a muitas maneiras de expressões orais de forma sentimental que não necessariamente rementem a um momento psicológico, mas sim algo social – de onde muitas vezes não há uma espontaneidade dessas ações e sim uma obrigação. Os rituais funerários são compostos de danças e cantos, onde, ao mesmo tempo ocorre uma dissecação com o objetivo de reconhecer o objeto que causara a morte do indivíduo. Muitas vezes também há uma jura de vingança ao responsável. Mas sendo essa situação um exemplo, a maior parte do capítulo foca nas diversas formas de expressar, de maneira coletiva, o sentimento de luto. De forma a gritar, uivar e a cantar, um grupo onde muitas vezes são formados por mulheres, insultam o inimigo e conjuram a alma do morto. Na verdade, há toda uma cerimônia quase que de honra para com o defunto, antes de admitir o luto em si.
O interessante em todo esse ritual não é somente a expressão do sentimento de forma sincera, mas como uma obrigação social. O que prova isso é que não são os parentes que participam de forma mais contundente a expressão do luto e sim aqueles que são parentes de direito. E muitas vezes, são do sexo feminino.
Mauss chama atenção ao fato de que, em certo ponto, os gritos e uivos são musicais e ritmados – talvez com o objetivo de espantar os males. Também salienta alguns dos clamores feitos pelas australianas nessas ocasiões: alguns perguntando a causa ou lamentando a situação. Mas a grande maioria são coisas simples como obscenidades ou ofensas contra os autores dos homicídios. E mesmo que pareça uma atividade obrigatória, não é excluído aqui o real sentimento de luto. Mas é preciso manifestá-lo a fim de obedecer a uma regra social.