A esquerda e o bem do povo
Hoje refiro-me à esquerda como sendo aquela que tem a mania de se auto-intitular de esquerda, assumindo o papel de Santa Inquisição ideológica para decidir quem é e quem não é de esquerda. Sendo assim o PS está de fora da esquerda, até porque para a esquerda o PS será sempre de direita e pior coisa que lhe poderia suceder era mesmo o PS optar um programa que pudesse ser considerado de esquerda. É mais ou menos o que sucede com a Constituição ou a legislação labora, sempre que são revistas vem aí o fim do mundo da direita para no dia seguinte à aprovação a esquerda chamar a sí a protecção da nova Constituição e da nova legislação laboral, grandes conquistas de Abril. À esquerda não basta ser de esquerda, cada facção da esquerda é melhor do que a outra esquerda, se uma é conservadora a outra é moderna, se uma gosta da China a outra odeia-a, de uma é sectária a outra é dialogante. Mas as facções das esquerdas têm um grande valor em comum, só elas querem o bem do povo, até se pode dizer que uma boa parte das personalidades de esquerda são profissionais do bem do povo, sindicalistas profissionais, deputados da AR, deputados do Parlamento Europeu, autarcas, sindicalistas profissionais ou pagos ao abrigo dos acordos de empresa ou, muito simplesmente, funcionários do partido, são verdadeiros profissionais do bem do povo, todos com notas de excelente para cima nas avaliações do desempenho. O que se entende por bem do povo? Habitualmente o bem do povo foi a última política acusada de direita, tudo o que o PS ou a direita tenha decidido foi mais uma desgraça de direita, que uns tempos depois será intransigentemente defendida pela verdadeira esquerda em nome de Abril. É óbvio que a verdadeira esquerda, que promete sempre uma aliança com o PS se este for de esquerda tem um programa, aliás, tem dois. Tem um programa conjuntural que assente em dois princípios, tudo o que qualquer governo proponha é por definição uma política de