DEMOCRACIA E MENTIRA

Bela a mensagem do Tribunal Superior Eleitoral, veiculada pela televisão, festejando o aperfeiçoamento de nossa democracia. Sem dúvida ela ainda é cheia de imperfeições a serem progressivamente minoradas.

E, lembrando a democracia, não deixa de vir à mente, pela antonímia, a ditadura. Por mais cheia que esteja aquela de defeitos, é melhor que a mais benigna destas.

Para começar, o autoritarismo do Estado é, em si mesmo, a mentira máxima repetida ao Povo. Não faz muitos anos, saímos de um regime, cujo nome mais brando que merece é assassino. E sob que pretexto foi ele implantado? O de salvar a própria democracia dos terrores do Comunismo. Uma grande mentira cantada em prosa e verso, como engodo para todos os brasileiros que não viam além das propagandas da própria ditadura e, antes dela, de quem a queria. Um médico bem salva a vida do paciente, mandando-o para a “outra vida”. E a história, para quem a conhece, demonstra à saciedade o que de falso havia no pretexto. Senão vejamos. Instaurada a ditadura, as grandes forças da esquerda e não esquerda, comunistas, democratas ou outros idealistas organizaram-se para combatê-la. Pobres heróis, como os guerrilheiros do Araguaia, que acreditaram “nas flores vencendo canhões”, como dizem os belos versos de Vandré, uma das vítimas da tortura generalizada. Realmente, todo o poderio bélico daqueles (desculpem-me eles) ingênuos não passava de flores, perto da força dos ditadores, auxiliados pelo poder multinacional a quem interessava o regime.

Mas voltemos um pouquinho no tempo e vejamos o perigo que havia de uma revolução socialista em nosso Brasil. A grande esquerda brasileira, como a existente nos meios estudantis, era formada por intelectuais desarmados, não ativistas. Não sem razão tinha o epíteto de esquerda festiva, cuja atividade concreta realmente não ia muito além de festejar eleições em diretórios acadêmicos. E, entre si, disputavam a hegemonia da esquerda pulverizada entre PCdoB, PCB, Grupão, POLOP e outras