A Educa O E A Liberdade
* Paulo Reglus Neves Freire (1921 - 1997)
Desde a infância, me identifiquei com os oprimidos, dediquei minha vida de educador para promover a consciência de que o homem, consciente de sua situação de explorado, alcance o pleno entendimento do seu contexto. Afirmo que se a realidade desigual e injusta, resulta da ação humana, ela pode ser modificada. A realidade social, objetiva, não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens. Se os homens são os produtores desta realidade e se esta, na inversão da práxis se volta sobre eles e os condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa de homens.
Transformar a realidade, libertando a oprimidos e a opressores, é a preocupação que me levou a criar a pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, a qual existe dois momentos distintos. No primeiro, dentro de uma realidade desigualmente injusta, os oprimidos vão descobrindo o mundo da opressão e comprometendo-se, na práxis. O segundo momento, no qual os homens e mulheres já estão em processo de permanente libertação, a pedagogia deixa de ser apenas do oprimido e passa a ser a pedagogia de todos os homens, assegurando uma convivência pautada no amor, respeito mútuo e tolerância.
Insatisfeito com o mundo de injustiças, optei pela educação para a liberdade, uma educação que respeita o homem como pessoa, sendo o futuro um tempo a ser moldado pela mão humana, onde existe a necessidade da educação da formação dessas mãos, que serão as encarregadas de lhe dar a forma. Vi a educação como fator de possível ruptura ou de reprodução da desigualdade instituída, sendo contra uma situação considerada injusta.
Acredito que a educação pode, embora com um poder impreciso, transformar aos poucos as pessoas, para que estas, reconsiderando suas concepções, acerca de si e da realidade concreta em que estão inseridas, processem gradativamente, a transformação. Se a realidade e os homens alteram-se mutuamente, esta luta