A dialética, e as perspectivas da verdade
1. ALEGORIA DA CAVERNA
Platão
Sócrates a Glauco: Imagina homens que vivem numa espécie de morada subterrânea, em forma de caverna, que tem, em toda a sua largura, uma entrada que abre para a luz do dia. No interior desta morada, desde a infância que estão agrilhoados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que permanecem no mesmo lugar, não vêem senão o que está diante deles, não podendo, por força dos grilhões que lhes imobilizam a cabeça, volta-la em redor. Quanto à luz, é a que lhes vem de um fogo que arde atrás deles, no alto e ao longe. Entre o fogo e os prisioneiros, imagina uma senda elevada, ao longo da qual existe um muro baixo, semelhante ao tapume que os exibidores de fantoches colocam à sua frente, e acima do qual os apresentam aos olhos do público (...). Então, ao longo do murozinho, imagina homens que transportam, excedendo-lhe a altura, toda espécie de objetos fabricados, estátuas, ou ainda animais de pedra, de madeira, plasmados em toda espécie de material. E naturalmente, entre os homens que os conduzem, há uns que falam e outros que nada dizem. Glauco: Estranha descrição e estranhos prisioneiros! Sócrates: Pois a nós se assemelham eles! Com efeito, crês tu que homens na situação deles, tenham visto mais do que as sombras que o fogo projeta na parede da caverna, à sua frente?(...). E agora, se pudessem conversar uns com os outros, não crês que, dando nome ao que vêem, pensariam designar as próprias realidades? (...). E se na prisão houvesse um eco proveniente da parede em frente? Quando falasse um dos que passam ao longo do muro, não te parece que eles poderiam julgar que as palavras emanavam da sombra que perpassa ao longo da parede? (...). Portanto, homens em tais condições só teriam por realidade as sombras projetadas por objetos fabricados. (...). Considera agora o que fariam se os libertassem de suas cadeias e os curassem de sua ignorância... Quando um desses homens fosse