A cultura marajoara
Por Marcos Pereira Magalhães
AS GRANDES CULTURAS AMAZÔNICAS
(a Amazônia como palco de surgimento e desenvolvimento de culturas complexas)
A região amazônica, cerca de 1000 anos atrás foi habitada por sociedades compostas de grandes populações, organizadas em Estados que admitiam um governo hereditário zelador das tradições religiosas e diversas lideranças carismáticas com grande poder de influência sobre as relações políticas. Essas sociedades admitiam, então, dois poderes políticos antagônicos: um de convergência e outro de divergência social que, quando em equilíbrio, permitiram o desenvolvimento de culturas altamente sofisticadas e de relações políticas em que as noções de fronteira e nação eram muito flexíveis ou mesmo inexistentes.
Na verdade, entende-se que as sociedades amazônicas, como todas as sociedades humanas, desenvolveram relações de poder inerentes à própria espécie, que podemos chamar de biopoder. Esse biopoder, que é instintivo e precede a humanidade, é típico dos mamíferos gregários nos quais um macho e/ou uma fêmea tentam subjugar o seu grupo. Entre os humanos foram desenvolvidas várias soluções para as satisfações do biopoder, segundo as particularidades culturais e o nível histórico das sociedades. As soluções encontradas para o poder coletivo se manifestaram através de chefias, cacicados, monarquias, repúblicas e etc. No entanto, o ser humano, mais do que todo outro animal desenvolveu relações culturais que amenizaram profundamente os instintos animais, inclusive na organização social do poder. Essas relações, por sua vez, além de não apresentarem um padrão universal, variaram no tempo e no espaço. Contudo, se considerarmos as sociedades organizadas como um conjunto unitário, todas elas, independente do nível de complexidade que tenham tido, constituíram um Estado em potencial.
Por seu lado, as soluções culturais para a organização do poder nas sociedades amazônicas encontraram modos de relações de poder que