A construção da ordem liberal
Josênio C. Parente1
Oliveiros S. Ferreira, analisando a Escola Superior de Guerra (ESG) do período pós-64, diz que “a influência de Hobbes é aqui apontada como o ponto de referência intelectual, para não dizer ideológica” da intervenção militar no Brasil. Diz ainda que sua “insistência em Hobbes é para procurar demonstrar que não é o anticomunismo que inspira a Doutrina da ESG, mas o contrário, vale dizer, é a Doutrina que inspira o anticomunismo, pois o marxismo-leninismo deseja, e ninguém o negará, acabar com a idéia de Nação (ou do Estado)”2. Aqui, portanto, temos duas afirmações relacionais que merecem uma reflexão para a leitura do Leviatã: a relação Hobbes e autoritarismo e a relação do mesmo com a idéia de Nação (ou de Estado). Sobre o autoritarismo no período republicano brasileiro encontramos uma tipologia elaborada por Antônio Paim que o divide em três grupos: o castilhismo, o tradicionalismo e o autoritarismo instrumental. O castilhismo está ligado a Júlio Castilho (1860/1903) no Rio Grande do Sul. Inspirado em Comte, foi aprimorada por Borges de Medeiros (1864/1961), formou uma elite altamente qualificada. Essa linha, segundo Paim, tem “o mais solene desprezo pelo liberalismo, certa de que a época dos governos representativos havia passado. Essa elite é que chegaria ao poder com a Revolução de 30. A ascendência de Getúlio Vargas
Doutor em Ciência Política e Professor Universitário.Trabalho terminado em 27 de Abril de 1994. FERREIRA, Oliveiros S., “A Escola Superior de Guerra no Quadro do Pensamento Político Brasileiro”, in CIPPA, Adolpho (Org.), As Idéias Políticos no Brasil, Convívio, São Paulo, 1979, Volume 2, p. 279.
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(1883/1954) durante os anos trinta e a implantação do Estado Novo correspondem à vitória e à consagração do castilhismo”3. O segundo grupo de autoritarismo que se formou e que Paim classifica de tradicionalismo, tem várias raízes,