A arte de contar mentiras
Como um fio que corre puxa o outro, a moça entra em pânico ao ver que, de tanto cruzar e descruzar as pernas - aquilo já vai pegando mal -, o buraco sobre o joelho aumenta, ressaltado pelo cinza da meia e a brancura de sua pele.
Pensa em ir ao banheiro, tirar as meias. Ir ao banheiro justamente agora? Além do mais, todos notariam que de repente tinha perdido as meias, ou coisa pior. Tem de ter outro jeito... Nisso, soa a voz do presidente:
"Dona Maria Eduarda, a senhora está precisando de alguma coisa?"
Ela quer afundar na poltrona, vermelha feito um camarão. Que vergonha!
A vergonha nos faz sofrer. Ela é o sinal de que nossa imagem pública está se quebrando, se não perante os outros, pelo menos para nós mesmos. O presidente nem tinha percebido que a meia de Maria Eduarda estava se rasgando. Queria apenas ser gentil, ao notar que sua nova diretora estava tão irrequieta.
O sofrimento é proporcional ao valor que damos a nossa imagem. Se nos damos muita importância, a vergonha pode nos fazer até cair de cama, em profunda depressão. O motivo pode ser uma coisa menor, e em geral o é. Mas isso pouco importa.
"Depois daquela estréia, faltei no dia seguinte. Fiquei tão arrasada que telefonei para uma amiga. Contei a história e ela me disse, com voz calma e pausada: 'Pior do que isso, Maria Eduarda, seria um pedaço de alface no dente da frente, se você estivesse num almoço com eles.'"
Foi como se Maria Eduarda voltasse de um coma profundo.
"Se nos damos muita importância, a vergonha pode nos fazer até cair em profunda depressão"
"Comecei a rir e de repente gargalhava,