A aflição de uma vida líquida
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O mundo pós-moderno é marcado pela angústia das possibilidades, das escolhas e da falta de modelos. E ninguém melhor pensa o tema hoje que o polonês Zygmunt Bauman. Sua obra se caracteriza pela extrema perspicácia na análise dos problemas sociais que perpassam a experiência cotidiana do homem contemporâneo na conjuntura valorativa que é denominada pelo autor como “Modernidade Líquida”. A questão da especulação sobre o medo público, o uso das disposições consumistas dos indivíduos como suporte para a manutenção da economia e a fragmentação da experiência ética da alteridade são temas recorrentes na trajetória intelectual deste prolífico sociólogo de formação que, todavia, por sua riqueza de interpretação, muito contribui para o desenvolvimento de um estudo filosófico enraizado na crítica da ideologia da sociedade de consumo e na despersonalização de um mundo desprovido de ampla cooperação interpessoal. Bauman é professor emérito de Sociologia da Universidade de Leeds, no Reino Unido. Grande parte de sua obra está publicada no Brasil pela Jorge Zahar, que tornou acessível a obra do pensador, que é um exemplo de dedicação intelectual. Os problemas sociais destacados por Bauman em suas obras são apresentados de maneira clara e solidamente argumentada. Nesta entrevista, pontos cruciais de suas ideias são revisitados.
FILOSOFIA • Um dos temas mais recorrentes em sua obra é a questão da “Modernidade Líquida”. Gostaria que o senhor comentasse algo sobre o ato de vivermos nesse novo conceito; haveria uma espécie de Arte da Vida para uma existência melhor, menos angustiante e menos líquida?
Zygmunt Bauman: É claro que é possível – mas muito difícil. Se você procurar solidez e durabilidade, cedo ou tarde descobrirá como são poderosas as chances que conspiram contra você. Você ainda poderia resistir ou ignorar essas chances adversas – mas isso exigiria muito mais esforço e autossacrifício de sua parte do que, por exemplo, nadar contra a corrente. E sempre que as chances