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FICHAMENTO:
ROUSSEAU, Jean-jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
O primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer: ‘Isto é meu’, e encontrou pessoas bastante simples para crê-lo, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, mortes, quantas misérias e horrores não teriam poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado aos seus semelhantes: ‘Guardai-vos de escutar este impostor; estais perdidos se esquecerdes que os frutos são para todos e que a terra é de ninguém!’ mas existe um grande indicio para que as coisas ai já estivessem chegado ao ponto de não poder mais continuar como estavam: pois esta idéia de propriedade – provindo de muitas idéias anteriores, que não puderam nascer se não sucessivamente – não se formou repentinamente no espírito humano: foi preciso fazer progressos, adquirir muito engenho e luzes transmiti-los e aumentá-los de geração para geração, até chegar ao último limite do estado de natureza.”
O primeiro sentimento do homem foi o de sua existência; seu primeiro cuidado, o de sua conservação.
Tal foi a condição do homem nascente; tal foi a vida de um animal limitado inicialmente às puras sensações, e aproveitando apenas os dons que lhe oferecia a natureza.
Ele aprendeu a superar os obstáculos da natureza, a combater por necessidade os outros animais, a disputar sua subsistência com os outros homens, ou a compensar-se daquilo que fosse preciso ceder ao mais forte.
Estas relações que exprimimos pelas palavras grande, pequeno, forte, fraco, rápido, lento, medroso, ousado e outras idéias semelhantes, comparadas ao azar da necessidade e quase sem pensar nisso, acabaram por produzir-lhe uma certa espécie de reflexão, ou melhor, uma prudência maquinal, que lhe indicava as precauções mais necessárias à sua segurança. As novas luzes, que resultaram desse desenvolvimento, aumentaram