Visões do homem no período do Renascimento Italiano
Jacob Burckhardt (1944), citado por Peter Burke em seu livro O Renascimento Italiano (2010), escreveu que durante a Idade Média “[…] o Homem só tinha consciência de si mesmo como membro de uma raça, de um povo, de um partido, família ou corporação, só por intermédio de alguma categoria geral. Na Itália, pela primeira vez, isso se desfez no ar… o homem se tornou um indivíduo espiritual e se reconheceu como tal”. (Burke, 2010, p. 230). A ideia do eu seria, então, a partir de Burke, uma construção social e que, se questionarmos o conceito corriqueiro de pessoas – estas, recortadas pela classe das elites na Itália do Renascimento –, pode-se descobrir que tal conceito é útil para distinguir a autoconsciência, com que Burckhardt se preocupava particularmente, da autoafirmação, e ambas da ideia de indivíduo. (Burke, 2010, p. 230).
Essa ideia de unicidade do individuo, acompanhou a de estilo pessoal na pintura ou na escrita. São exemplos destas, as autobiografias, os autorretratos, os livros de conduta; onde os tópicos da dignidade, da prudência, do calculismo, do racional eram favoritos dos autores que escreviam sobre a “condição humana”. O livro O príncipe de Maquiavel, com suas referências à “utilidade dos súditos” e à necessidade do governante de se fazer do “bom uso” da liberdade, da compaixão e mesmo da crueldade, apresenta uma imagem do homem – da elite –, comum na literatura desta época. Escolhemos o capítulo “XVII – Da crueldade e da piedade; se é melhor ser amado que temido, ou antes temido do que amado”, onde Maquiavel escreve a um príncipe que, ao tomar a consciência de si e seu dever como protetor dos deveres do Estado, deve, então, assumir sua posição em um mundo em que há dispostos a fazerem mal uns aos outros. O príncipe deve parecer ser clemente, fiel e religioso; mas, se necessário, ser ao contrário. Neste capítulo, assumindo a dificuldade em se reunir o ser amado e temido em um mesmo momento, o autor