Vida cotidiana
Autor: Rodrigo Fonseca e Rodrigues
Do Homem Ideal platônico ao Eu cartesiano: a imagem do sujeito para a ciência moderna
No século IV a. C. Platão idealizou um projeto inovador de humanização que almejava conceber uma proposta de formação ética do homem, através de uma pedagógica introjeção de valores “espirituais” (ethos) sobre os apetites dos instintos (pathos). Ao investir neste persistente caminho da educação, da formação consciente do ser humano, Platão não se reportava absolutamente ao individualismo nem do que brotava da individualidade fortuita, mas do ser do homem como idéia. Este homem ideal deveria ser intimamente vinculado às características do humano como um ser político. Ao enredar a existência particular dos indivíduos à efetiva e necessária comunidade de um destino, o projeto platônico buscava de modo minucioso aperfeiçoar e fazer do homem e do cidadão uma e a mesma coisa. O desafio era, portanto, fazer este homem, desde a sua infância, descobrir dentro de si próprio as razões determinantes do pensamento e de sua conduta ética e política. Havia, para o filósofo, uma diferença radical entre o conceito de “regra”, que regularia o comportamento: a lei (exterior) como limite que não pode ser transgredido; e o de ethos, que se pensaria como conduta humana, como conhecimento ético gravado, pela educação, no interior do homem. A distinção entre a indesejável individualidade fortuita e o ethos político do homem ideal residiria num processo consciente de formação cultivada para a vida na pólis. Formar e aperfeiçoar o homem como um projeto consciente de cultura foi reconhecidamente uma ideia ousada e que serviu de base ao humanismo, estopim de toda a história da moderna personalidade européia.
Dois mil anos depois, nos séculos XIV, XV e XVI, período de transição da Idade Média para a era moderna, surgiram pensadores que retomariam as preocupações éticas dos autores clássicos. A meta humanista, de modo geral,