Vicio liberado
O uso de drogas é proibido em praticamente todos os países por boas razões: são substâncias que causam dependência e têm efeito devastador na saúde e na vida dos viciados. Como se isso não bastasse, exceto na África, as drogas injetáveis são as principais responsáveis pela transmissão da
Aids. O problema é que a repressão policial não parece surtir efeito sobre o consumo, que só aumenta.
A Organização das Nações Unidas calcula a existência de 180 milhões de viciados no mundo. Essa dificuldade de controlar o consumo é um dos motivos pelos quais cresce nos países ricos o movimento pela liberação do uso de drogas – ou, pelo menos, da maconha, considerada de efeitos mais brandos.
No início deste mês, a Inglaterra entrou no rol das nações dispostas a experimentar nova estratégia nesse assunto. Em Lambeth, um bairro londrino cheio de imigrantes caribenhos, a polícia não efetua mais prisões por porte de maconha. Dependendo do resultado, o governo do primeiro-ministro Tony Blair pode repetir a experiência em outros lugares.
Na Austrália, há pouco mais de dois meses, o governo autorizou a abertura de salas especiais para viciados em heroína, nas quais o usuário pode injetar a droga sob supervisão médica. Desde 1999, muitos dependentes já utilizavam abertamente recintos cedidos por uma igreja evangélica em Sydney para se drogar. Espanha e Alemanha desenvolvem programas semelhantes. Em Portugal, uma nova lei, que vigora desde o primeiro dia deste mês, liberou o consumo de qualquer tipo de entorpecente.
As prisões foram suspensas e, no máximo, os usuários recebem uma multa e são encaminhados a tratamento psicológico. "As políticas tradicionais de proibição foram incapazes de controlar o consumo, e a criminalidade aumentou", justifica o presidente português, Jorge Sampaio. "É hora de tentar algo novo."
A revista inglesa The Economist, porta-voz do conservadorismo esclarecido, defende a descriminação das drogas sob o argumento de que não faz