VER
Estendi os meus braços p’ra abraçar-te
E entre nós uma porta se cerrou.
Um sopro de rubins em mim voou,
Sopro que permitiu poder sonhar-te.
Saía a tua sombra p’las janelas
E perdia-se, ao largo, em arvoredos...
Os meus dedos cismando caravelas,
Eram prolongamentos dos teus dedos.
Num parque de oliveiras te sonhei
Erguendo-te do oiro que queimei
Nas ânforas do templo do meu Ser.
Parece que te vejo e tu estás longe...
Afastei-me de mim para ser monge...
Meus olhos são a sombra de te ver!
O autor do soneto relata a sua amada a impossibilidade do amor entre os dois uma vez que ele diz que se cerrou uma porta entre eles. E quando ele relata essa impossibilidade, o mesmo diz que irá idealizá-la, sonhar com ela. O sopro de rubins faz com que o eu-lírico fique em estado delirante, possibilitando-lhe imaginar os dois em imagens que confundem os sentidos, em uma espécie de Surrealismo.
Entorpecido pelo sopro de rubins, as imagens surreais confundem a imaginação do eu-lírico, pois ele imagina a sombra de sua amada desgarrando-se do corpo dela, além de o seu corpo confundir-se com o dela ao toque.
Ao usar as expressões “jardins de oliveiras”, “oiro”, “ânfora”, “monge” o autor está dando ênfase a beleza da amada. O amor idealizado, ascético, resume-se no próprio título do soneto: “Ver-te” – como se ao amor bastasse apenas a contemplação. Com efeito, visto a impossibilidade do amor, o eu-lírico reduz a relação carnal a um único sentido: a visão (o ver-te); não obstante, o tato esteja sempre presente, em expressões como: “abraçar-te”, “sopro” e “queimei”.