A entrevista que se segue foi feita entre fevereiro e ju- nho de 2008, em uma felizmente longa troca de e- mails. É uma informação relevante, porque Howard S. Becker tem um estilo muito peculiar de conversação. É ao mesmo tempo incisivo e caloroso nas respostas, recusa-se a ser chamado de “Professor Becker” – “Eu não leciono mais”, diz ele, hoje aposentado e morando em São Francisco, mas ainda produzindo, como se verá abaixo. Exige o tratamen- to familiar de “Howie” (apelido que aliás nomeia sua pági- na na internet, em http://home.earthlink.net/~hsbecker/) e diz que não responderá a tal ou tal questão porque a “idade avançada” – ele está com 80 anos redondos – lhe permite. Mas é capaz, ao mesmo tempo, de dar uma dezena de replies de e-mails em um mesmo dia, para refinar uma resposta so- bre metodologia, no interior no qual aproveita para falar que aprendeu que a música brasileira – ele é pianista de jazz e vem ensaiando um retorno à carreira – não é apenas samba e Carmem Miranda, mas também “uma sofisticada gama de composições oriundas do jazz” (a bossa nova) e composi- tores como Tom Jobim e Chico Buarque, que ele cita com conhecimento das dezenas de fitas e discos de vinil que le- vou de suas várias visitas ao país. É o representante vivo mais celebrado das gerações fundadoras da chamada Esco- la de Chicago, o aglomerado de pensadores de várias casas – sobretudo o departamento de sociologia da University of Chicago – que, desde os anos 1910, revolucionou as ciências sociais nos Estados Unidos (e inseminou transformações semelhantes em vários países, como o Brasil) ao se centrar em sociologia/antropologia urbana e no uso de métodos et- nográficos. Uma tradição que em sua primeira geração