Utopia na Modernidade
Suzana Guerra Albornoz1
O texto explora a obra Utopia(1516), de Thomas More, em especial o que ali é dito sobre o trabalho, sua organização e distribuição na sociedade. Começa lembrando a polêmica em torno do livro, incluido na tradição da escritura em via oblíqua, segundo Leo Strauss e Miguel
Abensour, e procede à revisão do que More diz do trabalho a propósito da ilha imaginária ideal.
Palavras-chaves: Utopia, More, via oblíqua, trabalho, agricultura, artesanato, moderação, igualdade.
N
a Modernidade, a categoria do trabalho se tornaria central. Esta época da história das civilizações, especialmente, do Ocidente, é também uma das mais ricas na produção de utopias, a ponto de se poder dizer que a história da utopia está intimamente relacionada com o surgimento do que se chamou de era moderna. Isto muito embora o sonho humano de um mundo sem sofrimento e perfeitamente organizado possa ser considerado como um dado antropológico, presente em todas as épocas e culturas, e é o que se apresenta veementemente, por exemplo, na República de Platão, na Antigüidade grega, ou na Cidade de
Deus, de Santo Agostinho, na antiga Roma recém convertida ao cristianismo.
Nesta fase de nossa pesquisa será realizada uma peregrinação pelos textos modernos que demonstram o trabalho de imaginação da cidade perfeita, desde o período decisivo da
Renascença, empreendendo a travessia desse fluxo utópico literário moderno, contemporâneo das descobertas das novas dimensões do mundo planetário e do universo, seja que se tenha chamado propriamente Utopia, como o famoso livro de Thomas More - ou
Morus, ou Cidade do Sol, como na obra de Tomasio Campanella; seja que adquira as denominações mais variadas e fantásticas, como na diversa e abundante produção de textos utópicos dos Sécs. XVIII e XIX, sobretudo na França, mas também na Inglaterra e alhures.
A obra de Ernst Bloch, ou seja, a nova interpretação da história da utopia, revista e fundamentada de modo