Uma nova cultua política antecipatória
As grandes teorias às quais nos acostumamos – de alguma maneira, o marxismo e outras correntes e tradições – não parecem nos servir totalmente neste momento. Servem-nos em parte, e acredito que hoje há uma volta ao marxismo em todo o mundo. Isso não me surpreende porque a crise do marxismo, de alguma maneira, coincidiu com a “marxização” do mundo: a ideia de que o mundo era cada vez mais parecido com o que Marx havia diagnosticado. As dificuldades aparecem ao passarmos do diagnóstico para uma visão do futuro, questão que no marxismo nos traz muitos problemas.
Mas há outras dificuldades. O materialismo histórico converteu o capitalismo em um fator de progresso, em uma fase de progresso da humanidade, e isso nos trouxe problemas pelo fato de essa ideia ter deixado de fora uma questão que, para nós, é fundamental: a questão colonial. O colonialismo hão tem sido bem tratado nessa teoria e, além disso, em alguns textos de Marx vemos uma justificação – sobretudo na Índia – do colonialismo como fator do capitalismo: colonialismo é capitalismo, e é muito importante que recordemos isso.
A outra consequência foi tornar invisíveis, esconder outras formas de opressão, de discriminação e de exclusão que, para nós, hoje são muito importantes: o racismo, o sexismo, as castas etc. Outra consequência problemática é que o marxismo, de alguma maneira, compartilha o ideal da unidade do saber, da universalidade do saber científico e de sua primazia. Se propomos hoje a necessidade de uma ecologia de saberes, estamos falando de algo distinto. Finalmente, toda a teoria crítica tem sido bastante monocultural, e hoje estamos cada dia mais conscientes da realidade intercultural de nosso tempo. Por essa razão, chegamos à conclusão de que, provavelmente, a razão que critica não pode ser a mesma que pensa, constrói e legitima o que é criticável.
Necessitamos de outro tipo de racionalidade, e aí começamos a pensar um tipo de racionalidade mais ampla,