Uma perspectiva não escolar no estudo sociológico da escola
MARILIA PONTES SPOSITO
MARILIA PONTES
SPOSITO é professora da Faculdade de Educação da USP.
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S
Se a escola tem ocupado o centro da
reflexão sociológica sobre a educação, no
Brasil, é preciso reconhecer que essa mesma reflexão apresenta algumas rupturas e delimita, também, possíveis continuidades.
Sem realizar um balanço da sociologia da educação, como outros já o fizeram, é possível retomar alguns aspectos dessa tradição, sobretudo aquela que nasce na USP no início da década de 1950, para evidenciar o quanto algumas dessas orientações permitem, ainda hoje, oferecer caminhos sugestivos, capazes de enriquecer a compreensão sobre a instituição escolar, sobretudo em um momento caracterizado por uma profunda crise de sua ação socializadora.
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO E
SOCIOLOGIA DA ESCOLA
Apesar da legitimidade da expressão
“sociologia da educação” como âmbito específico de pesquisa, área de estudos e disciplina nos currículos do ensino superior e na pós-graduação no Brasil, é preciso reiterar a importância da perspectiva sociológica inaugurada por Florestan Fernandes no Brasil, nos anos 1950, quando afirmava:
REVISTA USP, São Paulo, n.57, p. 210-226, março/maio 2003
“A Sociologia divide-se em várias disci-
como Raimond Boudon não se considera-
plinas, que estudam a ordem existente nas
vam sociólogos da educação. Sua interro-
relações dos fenômenos sociais de diver-
gação sempre incidiu sobre o modo como
sos pontos de vista irredutíveis, mas com-
a sociedade se perpetua e é a partir dessa
plementares e convergentes. Contudo, nada
questão de sociologia geral que eles se in-
se disse (até aqui) sobre as chamadas ‘so-
teressaram pelos efeitos sociais da escola
ciologias especiais’, como a Sociologia
(Derouet, 2000, p.199). Afirma, também,
Econômica, a Sociologia Moral, a Socio-
que o poder explicativo dos paradigmas que